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segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

A TAÇA DO MEIO







A TAÇA DO MEIO

Por Ademir Esteves





Personagens:

ELKE

SARA



Louças, talhares e terrinas estão espalhados em cadeiras. Uma cadeira com capa. Outra cadeira sem capa e com as capas de outras cadeiras empilhadas sobre ela.



CENA 1



ELKE

Acho que a mesa da esquerda deve ser reservada para o Dr. Encrenca.

SARA

Vai parecer provocação, to te falando. Encrenca foi convidado a se retirar do partido, não fica bem colocá-lo tão próximo ao Dirigente.

ELKE

Mas você concorda que se ele não fosse bem vindo não teriam convidado? Sara, isso tudo é um campeonato de civilidade antes da convenção. Vem gente comer de graça do país inteiro.

SARA

De graça! A colaboração para o jantar do partido é a módica quantia de cinco mil reais para uma mesa de quatro pessoas. O que vão servir no menu? Faisão ao molho de pó de ouro salpicado de diamantes raros?

ELKE

Para o seu governo há um chef pra cada momento do jantar. Isso custa dinheiro.



SARA

Ai, Elke, às vezes o seu deslumbramento extrapola a consciência. O chef francês, por exemplo, é um alagoano de bigodinho falso que fala canard je fris com sotaque baiano.

ELKE

O que importa é o resultado. Se o pato frito dele for elogiado a cuisine française sera pour toujours entre les meilleurs du monde, ma chérie.

SARA

Lamento informar, Elke, a cozinha francesa já é uma das melhores do mundo.

ELKE

Pronto! A ordem da nacionalidade do cozinheiro não altera a fama da comida. Independente dos pratos, ainda prefiro o Dr. Encrenca sentado à esquerda do dirigente. Pelo menos ele estará bem à vista da mesa nobre.

SARA

Eu juro que eu queria saber porque ainda me coloco à sua disposição para essas hipocrisias.

ELKE

Será que tem alguma coisa haver com: precisamos do dinheiro deles para sobreviver?

SARA

Só se for. Quando esse povo se mistura, dá um caldo só. Sorriem um pro outro, mas os pensamentos são bem ao nível de que já estamos acostumadas: preciso do seu dinheiro pra campanha, idiota; vou colocar a mão na sua grana e mandar pro paraíso fiscal; com esse aí eu tenho que tomar cuidado, é ardiloso como meu pai e falso como a minha mãe...

ELKE

Vendo pelo seu lado eu a aconselharia a se candidatar.

SARA

Que horror, Elke!

ELKE

Não, eu não tô sendo maldosa, não. Pelo contrário, acho até que na hora da divisão dos lucros você me daria a maior força.



SARA

Que idéia fixa! Dinheiro...

ELKE

Dinheiro é o que paga a continuidade da espécie.

SARA

É, o dinheiro substituiu a profundeza humana.

ELKE

Que trágica! Meu amor, quem tem dinheiro encontra a devoção com a maior habilidade. E dá uma olhada nessa toalha aqui: tem uma mancha enorme de gordura.

SARA

Separa ela, vamos colocar na mesa do canto debaixo do coqueirinho.

ELKE

Ta vendo? Não temos reservas pra reciclar o serviço. Uma toalha engordurada pode desqualificar a empresa.

SARA

Faz o seguinte: a gente arranca umas folhas do coqueirinho e joga em cima da toalha como se as folhas tivessem caído sobre...

ELKE

Ah! Você e o jeitinho...

SARA

Como se escreve o nome do doutor Encrenca? Com E ou com H?

ELKE (rindo)

Ta louca, menina? O nome dele é Danúbio... Encrenca é só apelido da força contrária.

SARA

Danúbio é valsa... Não combina. Fico pensando na pobre mãe desse imbecil colocando valsas vienenses perto da barrigona de grávida e dizendo pro marido: meu afeto, quero que o nosso fedelho se chame Danúbio e se torne um benfeitor social quando crescer como o bisavô que dava pão aos pobres toda a segunda terça feira do mês de junho...

ELKE

Você não tem mais nada pra fazer?

SARA

Em que sentido?

ELKE

No sentido de deixar as opiniões de lado e trabalhar?!

SARA

Nem conversar mais se pode? Escuta, eu não sou uma maquininha de dobrar toalha de festa, não, viu bem?

ELKE

Mas tem inteligência suficiente pra deduzir que dividas somadas à dividas necessitam serem pagas. O que me leva a uma outra dedução: críticas não quitam dividas.

SARA

Mas torna a minha consciência mais leve. Não podendo me dar ao luxo de dispensar um trabalho pra essa canalha, que pelo menos eu possa desabafar em forma de palavras o meu conceito sobre ela. Se não quer ouvir, tape os ouvidos.

ELKE

Deixa pra lá.

SARA (tempo)

Será que eu consigo falar com o ministro da cultura durante o jantar?

ELKE

Não tem nenhum ministro de cultura convidado.

SARA

Como não? O comitê não vai dar o jantar pra simpatizantes do Partido de Cultura e Arte Brasileiro?

ELKE

Vai. O ministro não foi convidado, mas convidaram secretários de cultura.

SARA

Ah, ta! Então falo com um deles...

ELKE

Pelo amor de todos os santos, Sara, não mistura as relações, por favor. Nós somos apenas as organizadoras do jantar. Não fica bem você tratar de assuntos extras com os convidados.

SARA

Eu não vou chegar e pedir patrocínio pro meu espetáculo assim, de repente. Eu pergunto se a comida ta boa, se ele ta bem servido... Se ele corresponder, abrir dialogo, eu marco um horário.

ELKE

De que espetáculo você ta falando? Nem em grupo amador de teatro você ta inserida.

SARA

Vou me inserir. Em breve estarei com o projeto prontinho. Mandei um e-mail pro Rodrigo Cashemir encomendando um texto pra mim.

ELKE

Quem é Rodrigo Cashemir?

SARA

É um aí que ta escrevendo teatro a torto e a direito. Ganhou Shell ano desses. Tem prestígio.

ELKE

É, ele pode ter, mas e você?

SARA

Quem não arrisca não petisca.

ELKE

Projeto cultural neste país não é respeitado nem com artista consagrado, imagina com uma Joana ninguém como você encabeçando.

SARA

Como você é má, né? Puta que pariu, como você é pessimista. Você sabe muito bem que eu já fiz muito sucesso no teatro da minha cidade. Ganhei três, ó, três prêmios de melhor atriz.

ELKE

É! Um troféu em miniatura e dois certificados em papel vergê. Isso lhe dá uma grande possibilidade de ascensão, não é mesmo?

SARA

Ta me tirando o direito de tentar?



ELKE

Não. Será que não percebe que oportunismo é uma prática desses senhores canalhas que você tanto censura?

SARA

Nossa! Agora você foi fundo. Calou na alma, cara. Eu não tinha pensado nisso.

ELKE

E sabe por quê? Por que é um interesse pessoal seu. Se vai ultrapassar convenções, utilizar os mesmos métodos que eles, então não há problemas. No fim, você sabe que não está fazendo por mal, apenas garantindo a montagem do seu espetáculo.

SARA

Tudo bem. Dou a mão à palmatória. Mas eu não estaria fazendo mal a ninguém.

ELKE

O mal já está feito, Sara querida. Do contrário todos pensariam da mesma maneira e não haveria discordâncias.

SARA

Meu mundo caiu. Pronto, caiu! Ta no chão. Deitou como um elefante pra morrer. Eu sou tão desprezível quanto eles. Caiu o gabinete...

ELKE

Sem tragédia, vai. Eu é que deveria ficar de bico fechado.

SARA

Prometo que a partir dessa vou me policiar mais.

ELKE

Pega essa bandeja aí...

SARA (pega e de repente se olha refletida nela)

Oportunista, execrável, abjeto da condição humana.













CENA 2

ELKE

Eu posso contar com sua colaboração ou faço tudo sozinha?

SARA

Então era isso, Elke? Quando nos conhecemos na reunião de terapia em grupo você estava tentando se libertar da menina oprimida que tinha sido? Só agora entendo o estado de angústia que as suas palavras carregavam.

ELKE

Isso foi há muito tempo.

SARA

Esse tipo de vivência não se apaga de um momento pro outro...

ELKE

Por que falar nisso? Temos uma infinidade de ocupações por aqui, Sara. Não me acarreta benefício algum trazer de volta aquela época.

SARA

Qual urgência você tem? A da simples continuidade do trabalho, dia e noite, ininterrupto? E os seus ideais, Elke?

ELKE

Meus ideais são de sobrevivência, bem estar, lógica de horários bem ocupados e muito bem aproveitados. Cada segundo da minha vida tem que adicionar mais caldo ao meu feijão. E antes que você fale qualquer disparate é assim que sou, é assim que penso e sempre pensei.

SARA

Ta mentindo pra mim, por quê? Você há poucos minutos me abriu os olhos... Eu me lembro, me lembro muito bem, um dia na sessão de terapia você falou de quanto reagiu contra sistemas, códigos, preceitos...

ELKE

Já passou! Eu gritava contra mim mesma, Sara, depois de erguer bandeiras, depois de procurar ajustamento no mundo que eu tinha pra habitar, eu passava fome. Eu fui despejada de todas as pocilgas em que morei por falta de pagamento. Eu tinha que cerzir as meias, as saias, as roupas intimas que me davam e nesse tempo, eu sorria até disso tudo, porque na minha cabeça estava tudo certo, era em nome da igualdade, da liberdade de sei lá o quê, da fidelidade aos princípios humanitários, mas a noite eu chorava de fome, a noite eu só queria que me dessem um trabalho de onde eu tirasse só um pouco de decência, que me desse meios pra não permitir que outros sofressem com a mesma fome que eu tinha. E de repente, no exato instante que minhas pernas nem se mexiam mais de tão fracas, eu olho pro lado e vejo os caras. Todos eles com quem dividi a persistência, a humilhação das tapas poderosas no meio da boca, os caras por quem doei sangue em forma de feridas profundas, estavam lá, cheios de camisas brancas aonde em mim permaneciam os remendos. Repletos de maquiagem aonde em mim havia suturas; vestidos em veludo aonde em mim havia o frio. Ainda assim, Sara, ergui minha mão num gesto de pelo amor de Deus e sabe o que ouvi? Você precisa tomar rumo na vida, garota, desse jeito você acaba morrendo em devaneios.

POR UM LONGO MOMENTO AS DUAS TRABALHAM EM SILÊNCIO.

SARA

Posso pedir desculpa?

ELKE

Desculpa? Deixa disso. Realmente foi bom poder falar um pouco. Sabe, eu compreendo sua ansiedade. E também entendo a necessidade de buscar um jeito de construir a sua carreira como atriz.

SARA

Mas?

ELKE

Mas existem tantas maneiras de expressar... de... conseguir, de forma mais...

SARA

Honesta? Conseguir de forma mais honesta o patrocínio para o meu espetáculo?

ELKE

É! É isso!

SARA

Se você tem uma história da qual desistiu, imagina a minha. Cada vez que eu pego numa toalha dessas sinto-me carregando uma cruz; cada vez que sorrio pra um convidado numa festa, invento uma personagem. Durante todo o jantar construo a gênese para a figura dramática: ela era uma gata borralheira, deixada de lado pelos patrões e um dia penetra numa festa e encontra todos os algozes. Ela é tão linda e seu sorriso tão poderoso, um a um cai aos seus pés, rendendo-lhe honras de princesa.

ELKE

Acha que a nossa história faz alguma diferença no mundo?

SARA

E não faz?

ELKE

Alguém ouve o que falamos? Alguém, realmente, se interessa pelo próximo com a mesma ou maior intensidade com a qual trata a si próprio?

SARA

Não sei quanto aos outros, mas você está aqui pra não me deixar mentir. É um grande exemplo de que podemos interferir de modo certeiro na história de alguém.

ELKE

Mas eu atingiria o alvo se dentro de você não houvesse clareza?

SARA

Pra isso é preciso ter ouvidos, nada mais.

ELKE (RINDO. Olha para fora)

Os carregadores trouxeram as caixas dos copos. Você não tem a impressão de que nunca dará tempo de colocar tudo nos lugares certos? (SARA SAIU E VOLTOU CARREGANDO UMA CAIXA FECHADA) falando nessa coisa de patrocínio, lembrei da Susy, lembra dela? Moreninha... olhos verdes...

SARA

A que morava ao lado da estação?

ELKE

Um talento ela, né? Se não tivesse morrido tão jovem, com certeza seria uma das mais brilhantes atrizes...

SARA

Detesto ter que lembrar isso, Elke. Ai, hoje você ta querendo mexer com as sensações desarranjadas...

ELKE

Ela passou quarenta noites dormindo na frente do prédio da cultura, com o projetinho na mão. Virou piada na imprensa, nos corredores das repartições, mas ficou lá, irredutível. O secretário respondia: não podemos beneficiar esta senhora sem avaliar os outros projetos que nos chegam diariamente. (volume de voz) seria injusto distribuir incentivos pra um enquanto há milhares de outros por aí fazendo arte. (aumenta a voz) nós nos condoemos pela fibra dessa senhora, mas a cultura não tem verba disponível, estamos falidos. (Tempo) e você sabe o que aconteceu, né, Sara? A Susy saiu de frente do prédio da cultura carregada pelos artistas de rua.

SARA

A coitada morreu por falta de patrocínio.

CAI A LUZ.



CENA 3

AINDA NO ESCURO



SARA

Elke?

ELKE

Hum?!

SARA

Você já dormiu?

ELKE

Tô acordada.

SARA

Mas você ta bem acordada ou sonolenta?

ELKE

De olhos abertos, te escutando.

SARA

Ah!



ELKE

Quer falar o que?

SARA

Nem sei. Tava com medo de pegar no sono e ter o pesadelo de novo.

ELKE

Tomou o chá de camomila?

SARA

Esqueci!

ELKE

Vá tomar.

SARA

Não ta afim de deitar aqui comigo?

ELKE

Pra que?

SARA

A cama ta fria.

ELKE

Pára de pensar. Põe na cabeça somente coisas positivas.

SARA

Tudo bem se não quer deitar comigo.

ELKE

Quer juntar as camas?

SARA

Deixa. Daqui a pouco o sono chega.

ELKE

É!

SARA

Acha que eu to preparada pro teste de amanhã?

ELKE

Sou leiga, mas você se preparou tanto!



SARA

Mas gostou de como eu resolvi a cena?

ELKE

Claro! Ta bom, sim.

SARA

E se eu não passar?

ELKE

Virão outros testes. (tempo)

SARA

Elke? (tempo) Elke? (tempo) Vou passar a cena novamente.

ENTRA LUZ EM SARA, SENTADA.

SARA

(Respira profundamente) Jesus, abaixa essa espada! Desamparado e frágil poderia machucar alguém. Avista o batalhão de mil soldados, Jesus. A sua espada deve ser enterrada em seu próprio corpo assim conservando a compostura. No entanto não me peça para feri-lo, pobre amante, é indispensável manter a honra; cá viemos provendo de verdade as calúnias a nós impingidas, se não nos acreditam deixemos as angústias escritas . Um dia, quando abrirem as cartas e conhecerem os motivos que nos fizeram lutar contra eles, fatalmente darão a uma rua qualquer o nome de Jesus. (De repente, saltando para frente e para a platéia) Soldados da democracia, bem vindos ao inferno! Bem vindos ao tempo da vergonha compactuada por todos, sem exceção! Que é? Estão apavorados com a espada de Jesus? Que é? Que é, soldados da democracia, o que vejo são suas almas caminhando para matar um único homem que ousou contar segredos? (vira-se) olha só, meu amante, os soldados... (Não vê Jesus. Lentamente volta-se para os soldados) o que é que você está fazendo aí, Jesus? Por que me aponta a espada? (em si) Meu Deus! Somos idênticos.



B.O.







CENA 4

ELKE

São trezentos e onze lugares. Trezentos e onze e só temos trezentas e dez taças, Sara.

SARA

Qual o problema? A gente pede pra um dos meninos ir comprar a taça que falta. ELKE

Onde se vai encontrar uma taça como esta, me diz?! Base vermelha, haste laranja, envergadura de cristal com a inicial E?

SARA

Quem é que vai notar a diferença?

ELKE

Eu vou notar.

SARA

Faz questão de notar, não é assim? Você faz questão de notar tudo.

ELKE

Faço questão. Eu noto tudo.

SARA

É isso, a observação em pessoa; a deslumbrante organizadora de festas que nota tudo.

ELKE

Qual é a ironia, mocinha? Você tem coragem de bater boca comigo sabendo que é do meu esforço que tira seu teto, sua segurança, pra continuar dando cabeçadas nessa de ser artista?

SARA

O que? Ta me cobrando?

ELKE

A sua mediocridade não fará de você uma profissional, escreve o que tô dizendo, Sara. Você é vulgar.

SARA

Cala a boca! Cala essa boca agora antes de arrepender-se.





ELKE

Não sou mulher de arrependimentos. Não. Minto. Me arrependo do maldito momento que convidei você pra morar lá em casa.

SARA

Tudo isso por causa de uma taça?

ELKE

Que taça, Sara, que taça? Olha aqui na minha cara e fala de uma vez o tanto de ódio que tem por mim. Fica me espezinhando o tempo todo, contrariando as minhas ordens, fazendo mole pra pegar no pesado...

SARA

Elke, eu não odeio você.

ELKE

Mas eu odeio. Eu odeio conversar. Eu odeio dividir. Eu odeio ser escrava de gente poderosa. Eu odeio você, o mundo, a bondade, odeio sexo, eu odeio as taças.

SARA

Então, vai. Arrebenta seu ódio de uma vez; grita as merdas guardadas dentro de você. Faz alguma coisa antes que eu seja o único motivo pras suas desgraças. Mas antes, ouve bem o que vou te dizer, ouve... (coloca três taças lado a lado sobre a mesa. Aponta a da direita enchendo com água até a borda) essa é você. A primeira da fila, a que chegou primeiro com a infelicidade nas costas. Veio esperando mudanças e simplesmente foi mutilada nos seus desejos. (Aponta a taça da esquerda, colocando um quarto de água) Esta sou eu. A simplona, a medíocre atriz sem perspectiva, sonhadora e vulgar acolhida por você: a primeira da fila, a que chegou antes do desabamento do planeta particular tão almejado. (Aponta a taça do meio) Esta é a taça do meio. Vazia. Porque é o meio, entende? O meio. Vazia porque não tolera ser preenchida por tantas idéias. A taça do meio não comporta o seu pensamento, nem o meu, nem o pensamento de ninguém, porque a taça do meio considera todos os pensamentos um grande vácuo, um grande desperdício de idéias, você me entende? A taça do meio não abraça causas porque sabe que nenhuma delas pode ser a escolhida.

ELKE

Me faz um favor, Sara, me deixa sozinha.

SARA

Não espero que você compreenda.

ELKE

Eu compreendo. Mesmo sabendo que na ausência de água dentro desta taça, resta ar.

SARA

Ainda. Ainda há algum ar no mundo. (sai)

ELKE

De qualquer forma é preciso ganhar dinheiro. É preciso continuar sempre. Acho que você deveria sim falar com os secretários de cultura. Não custa tentar. Não custa investir um pouco mais na sua carreira. A toalha engordurada a gente coloca na mesa do fundo, no cantinho dos coqueiros. Parece que não nos entendemos quando falamos de nossas idéias, mas eu compreendo. Compreendo. (chora) compreendo a minha covardia, Sara, quando não quis mais ter fome. Eu me deixei levar pelas palavras, pelo comportamento indicado pela sociedade... talvez não tenha sido covardia.

SARA (entrando)

A mulher do deputado ligou cancelando o jantar.

ELKE (distante)

Cancelando? Mas o contrato...

SARA

O doutor Encrenca morreu.

ELKE

Ah! Coitado...

SARA

Ataque cardíaco. Acabou-se, Elke querida, o doutor Encrenca já era.

ELKE

Se ele morreu vamos tratá-lo pelo nome. (serve champanhe nas três taças. Entrega a da esquerda para Sara e fica com a da direita. A do meio fica na mesa para ser iluminada pelo foco final. Ergue o brinde) Ao doutor Danúbio!

SARA

A ele!

Fim






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